- 18 de fevereiro de 2012 |
- 23h45
MARIANA LENHARO
Praticar tai
chi chuan, arte marcial chinesa de grande popularidade no Brasil, pode
prevenir o surgimento de problemas cognitivos sérios em idosos. Essa é a
conclusão de pesquisadores da área de Geriatria do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(HC-FMUSP), que estudam como a modalidade consegue desacelerar o
declínio da memória.
O estudo, feito
no Ambulatório de Memória do Idoso do Serviço de Geriatria do HC,
acompanhou 26 idosas com comprometimento cognitivo leve durante um
período inicial de seis meses. Enquanto metade do grupo praticou a arte
marcial duas vezes por semana, em sessões de 60 minutos, a outra metade
só recebeu acompanhamento médico, com periodicidade semanal.
As funções
cognitivas de memória, atenção, coordenação, planejamento e aprendizado
foram medidas nos dois grupos – com avaliações feitas no início do
estudo, aos três meses e aos seis meses. Os resultados mostram que, já
nos primeiros três meses, as idosas que praticaram tai chi tiveram menos
queixas de memória em relação ao outro grupo. Além disso, a capacidade
de aprendizado das praticantes também aumentou em relação às outras
voluntárias.
Uma das autoras
do estudo, a médica geriatra Juliana Yumi Tizon Kasai, afirma que a
importância da pesquisa está em analisar justamente os pacientes com
comprometimento cognitivo leve, para os quais ainda não existem remédios
eficazes que consigam impedir a evolução do quadro para doenças graves.
“Os problemas de memória deixam esses idosos bastante preocupados e
atrapalham o dia a dia deles. Mas, para esses casos, o medicamento não
tem benefício algum”, esclarece a médica.
Juliana afirma
que os idosos com falhas leves de memória, que ainda não chegam a
caracterizar um quadro de demência, precisam ser acompanhados de perto
pelos médicos e especialistas, pois eles têm mais fatores de risco para o
desenvolvimento do mal de Alzheimer – o tipo de demência mais comum
entre os brasileiros na terceira idade.
O mecanismo
pelo qual o tai chi chuan consegue desacelerar o declínio da memória
ainda precisará ser alvo de novas investigações, de acordo com Juliana.
“Ninguém sabe muito bem por que a atividade tem esse efeito. O que
sabemos até agora é que ela promove uma melhora da circulação, da
respiração e também da coordenação motora”, afirma a geriatra.
Atividade complexa –
Outra característica da prática oriental que pode contribuir para a
saúde neurológica é que seus praticantes são levados a memorizar os
nomes das posturas e a sequência em que devem praticá-las. “No tai chi
chuan é preciso prestar muita atenção o tempo todo para conseguir
lembrar o nome da postura, respirar direito, colocar o pé na posição
correta”, exemplifica Juliana.
De acordo com o
professor de educação física Edgar Koji Karasawa, da Sociedade
Brasileira de Tai Chi Chuan e Cultura Oriental (SBTCC), as aulas começam
com exercícios que ensinam a execução dos movimentos e seus nomes.
Depois de algumas repetições, os praticantes realizam uma sequência de
seis movimentos. Karasawa orienta o grupo que faz parte da pesquisa do
Hospital das Clínicas e conta que os alunos também recebem apostilas com
exercícios para que estudem e treinem em casa.
Na opinião dos
idosos, os benefícios trazidos pelo tai chi chuan são evidentes. A
aposentada Maria Socorro, de 75 anos, pratica a arte marcial há dois
anos e garante que, logo após as primeiras aulas, já percebeu uma
melhora significativa nas dores reumáticas que sentia.
Quanto à
memória, Maria Socorro conta que o declínio estacionou. Com isso, ela já
não sofre com situações constrangedoras que a incomodavam bastante no
passado. “Esquecer o nome de alguém em uma reunião ou esquecer o que eu
pretendia comprar no mercado são problemas chatos que se tornaram muito
menos frequentes”, comemora a aposentada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário